Bávaro: fala de abreviaturas e diminutivos
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Não só trajes típicos, também os dialetos
são cultivados na Baviera |
O temperamento calmo do bávaro geralmente o leva a falar devagar, mas também faz com que ele economize saliva, abreviando diversas palavras num único som. Confira as surpresas lingüísticas que nos esperam na Baviera.
Para os bávaros, ovos são "Ao" e não "Eier", tomates são "Baradeiser" e não "Tomaten". Mas quem pensar que, mesmo falando alemão, corre o risco de passar fome na Baviera por não entender o dialeto local, pode se acalmar: algumas regras podem ajudar a desvendar os mistérios desse linguajar, apesar de ele também ser uma "questão de sensibilidade".
O ditongo "ei" (pronunciado "ai") vira "oa". "I hoas" corresponde a "ich heisse" (Eu me chamo) e "I woas" a "ich weiss" (Eu sei). Mas, cuidado, toda regra tem sua exceção: a cor branca "weiss" continua sendo "weiss" e não vira "woass". Portanto, todo cuidado é pouco! Quem pedir um "Schwoansbraten" e esperar ser servido com um "Schweinebraten", a especialidade suína da cozinha bávara, vai ficar a ver navios.
Uma palavra tão simples como o verbo "vir", "kommen", é pronunciado com "e": "kemmen". E a conjugação é tão inesperada quanto: "i kimm, du kimmst, ihr kimmt, wir kemmen". O mesmo se aplica ao verbo "conhecer", "kennen", que vira "kinnen".
O primeiro passo é não se desesperar
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Estação central de Munique |
Quem descer do trem na estação ferroviária central de Munique e perguntar pelo caminho do hotel, não deverá se admirar se receber a seguinte resposta: "Ja grias good, deskonnedaschosong, gest Gödestras owe unnauchadnauf zur Schwandalahä und nasigsdasscholinks wodesblaueschuidlsis! Hosdme?".
O primeiro passo é não se desesperar. Apesar do exotismo da fala, o bávaro costuma ser educado e não faz questão de explicar as coisas tintim por tintim:
"Grias God" (Grüss Gott) é a forma distanciada de se cumprimentar na Baviera. A amigos e conhecidos é mais comum dizer "Seawas", que corresponde à fórmula latina "Servus", "sou seu servo". Ao se dirigir a pessoas mais idosas, o bávaro costuma dizer "Hawediäre", algo equivalente à expressão "(ich) habe die Ehre", "tenho a honra". Mas, caso se queira cumprimentar um grupo, a coisa fica um pouco mais complexa: "Griasaichgodbeianand" é uma espécie de variante sincopada de "Grüss-Euch-Gott-beieinander".
Bem, voltando ao caminho do hotel: "Deskonnedaschosong" significa "Das kann ich Dir schon sagen" (Pode deixar que eu já digo). Uma coisa importante, sobretudo dentro da Alemanha, onde desconhecidos são sempre abordados pela forma de tratamento formal "Sie", é saber que os bávaros costumam tratar as pessoas por "du", a variante informal. Isso não deve ser encarado como ofensa e sim como lisonja. Um mau sinal é quando o bávaro começa a conversa tratando o interlocutor por "Sie".
No diminutivo, independente do tamanho
"Gödestras owe": isso significa apenas que você deve descer a Goethestrasse (Rua Goethe). Ao contrário do que pode parecer, "owe" não tem nada a ver com "oben" (em cima); muito pelo contrário, indica a direção oposta, para baixo. "Affi" significa "auf hin", ou seja, "hinauf" (para cima), enquanto "owe" é "ab, hin, hinab" (para baixo).
Ou seja, após descer a Goethestrasse: "nasigsdasscholinks wodesblaueschuidlsis". Muito simples: "Dann siehst Du es schon, links wo das blaue Schild hängt", ou seja, "então você já vai ver a placa azul à esquerda". "Schuidl?": isso mesmo, "Schild", placa. Viu, não foi tão difícil assim encontrar o hotel.
Também é bom saber que o bávaro adora usar formas diminutivas. Um quadro ("Bild") é "Buildl", um barril ("Fass") é categoricamente um "Fassl", roda ("Rad") é "Radl", tábua (Brett) Brettl, independente do tamanho da coisa. Uma folha (Blatt) é sempre uma folhinha (Blattl).
Mas a chave mais importante para começar a desvendar o dialeto bávaro é saber que o temperamento calmo destes alemães do sul também implica uma certa preguiça na fala. O bávaro adora abreviar palavrinhas breves e insignificantes num único fôlego. Por exemplo, em vez de dizer "Was möchten Sie denn?" (O que o senhor quer afinal?), ele diz simplesmente "Was mächdans?" Ele também adora juntar as sílabas sem pausa nenhuma: "Sammawiederguad", "lass uns wieder Freunde sein", "vamos fazer as pazes".
Recusa o genitivo e a fazer bico
Mas, no mais, o dialeto bávaro tem suas vantagens. Um bom exemplo é a ausência de genitivo. O "carro do pai" não é "das Auto des Vaters", mas sim "am Vadda sei Audo", ou seja, algo como "do pai seu carro". Ou "die Ansichten der Leute", "as opiniões das pessoas", se traduz em bávaro como "de Lait ernare Ansichten", "das pessoas as opiniões delas".
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Königssee, lago na Alta Baviera:
diferenças regionais são grandes |
Dizem que o bávaro também só faz bico para beijar, mas jamais para pronunciar uma vogal com trema. Na Baviera, não existe "über" (em cima), por exemplo. Sem genitivo, sem "ü" nem "ö": este dialeto até simplifica a vida de quem está aprendendo alemão. Se bem que o dialeto varie de região para região...
O bávaro, falado não só na Alta e na Baixa Baviera, mas também no Alto Palatinado e em certas partes da Áustria, muda de figura de tantos em tantos quilômetros. Mas, o que mais ajuda na decifração do dialeto é mesmo a sensibilidade. E, em se tratando da Baviera tudo isso é questão de sensibilidade, "eine Sache des Gfuils", ou seja, "des Gefühls".
Eva Mehl (sm)
Na sequência, próximo artigo da série:Berlinense: sem fronteiras, nem gramática.