Vista de Estrasburgo |
A Europa está disposta a proteger suas minorias – também no tocante às línguas. O idioma alsaciano, por exemplo, falado na fronteira entre a França e o sul da Alemanha, está vivenciando um renascimento inesperado.
Na França, os parlamentares avançaram um passo nessa direção. Eles também incluíram na Constituição a proteção às minorias linguísticas. Isso deverá dar um impulso a todos os idiomas regionais. Entre os alsacianos, são grandes as esperanças de reavivar sua língua minoritária negligenciada por tanto tempo.
Um terço ainda fala dialeto
Uma associação de Estrasburgo denominada Junge fers Elsassische (Jovens pelo Alsaciano, em grafia dialetal) oferece um curso de língua toda quarta-feira à noite. A professora Bénédicte Keck começa a primeira aula se apresentando em alsaciano – com uma cegonha na mão, o símbolo da Alsácia. Para os alunos, esse é o sinal para falar o dialeto. Todos respondem em coro: Gute Morje!, em vez do alemão Guten Morgen!.
Flammkuchen ou tarte flambée?: uma especialidade alsaciana |
Hoje, aproximadamente um terço da população da Alsácia ainda fala esse idioma aparentado com o alemânico e o francônio. Mas são sobretudo as pessoas mais velhas que cultivam o dialeto. Os mais jovens costumam fazer os cursos por mera curiosidade. Outras motivações são o interesse por línguas ou a convicção de que o aprendizado de idiomas significa um enriquecimento cultural para a pessoa.
Para os franceses, é difícil aprender sobretudo a gramática e a pronúncia do dialeto alemão. Além disso, as línguas minoritárias sempre foram vistas com ressalvas na França, uma tendência que prossegue até hoje.
Lutas ideológicas
Durante muito tempo, o Estado francês tratou as regiões do país com uma certa reserva, temendo o separatismo. O idioma alsaciano sofreu especialmente com isso, explica o diretor do Escritório da Língua e da Cultura da Alsácia, Justin Vogel.
Após a Segunda Guerra, os escolares foram proibidos de falar alsaciano na escola. O próprio Vogel foi punido na época, por ter ousado falar algumas palavras do dialeto alemão no pátio da escola. "Eu tive que subir numa escada e cantar o hino nacional francês para cem alunos", recorda.
As lutas ideológicas deixaram marcas profundas até hoje. Após a Segunda Guerra, diversas famílias se recusaram a transmitir aos seus filhos um idioma com sonoridade tão alemã.
Vista do Haut-Koenigsbourg, na Alsácia |
Hoje, ainda há cerca de 150 mil alsacianos que falam exclusivamente dialeto. Mesmo assim, em cidades grandes como Estrasburgo, só se encontram poucas lojas onde vendedor e freguês falam espontaneamente o alsaciano.
Língua significa identidade
Como vice-presidente do Conselho Regional da Alsácia e diretor do Escritório da Língua e da Cultura da Alsácia, Justin Vogel usa uma andorinha na lapela. O símbolo, avistado com frequência nos "oásis" do dialeto, significa simplesmente que ali se fala o alsaciano.
O órgão dirigido por Vogel tenta, com muita paciência e dinheiro, incentivar o uso do alsaciano na vida pública. O Estado subsidia mais de 50 cursos, envia material sobre o dialeto a todos os pais de recém-nascidos, organiza festivais culturais alsacianos, concede incentivos à publicação de dicionários, além de convencer empresários a se comprometer com uma "carta linguística".
"O fato de os alsacianos falarem seu dialeto os leva a reconhecer de onde vêm. Acredito que cabe a nós lembrar as pessoas de que a língua faz parte de suas raízes e de sua cultura, além de ser uma pequena parte de sua alma", comenta Vogel.
Autor: Andreas Noll
Revisão: Alexandre Schossler
Na sequência, próximo artigo da série: Bávaro: fala de abreviaturas e diminutivos.
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