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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Reportagem da Deutsche Welle - Atlas de Dialetos alemães VIII - Baixo-alemão: o falar arcaizante

Baixo-alemão: o falar arcaizante

 
O dialeto dos litorâneos soa incompreensível
à maioria dos alemães

Alemão do norte (Norddeutsch) e baixo-alemão (Plattdeutsch) são designações bastante genéricas para os dialetos falados em diversas regiões do norte da Alemanha. No litoral do Báltico e no interior, o dialeto provavelmente é mais falado que nas cidades.

Na região de Mecklemburgo, as pessoas precisam de um bom tempo para completar as frases. Mesmo falando nessa velocidade, eles ainda conseguem ser bem pouco nítidos na articulação. As vogais são prolongaaaaadas, viram até ditongo: em vez de wohnen ("morar"), diz-se wounen; em vez de Kuh ("vaca"), diz-se Kou e às vezes até Kau (como em inglês).
Mas quem fala este dialeto parece ser mesmo do contra. Em todo lugar que um falante da língua padrão presumiria um ditongo, os falantes de baixo-alemão o ignoram: Haus ("casa") vira Huus, Schwein ("porco") vira Swien.
O dialeto do norte tem uma predileção por orações relativas. Ninguém diria, por exemplo, die einfahrenden Schiffe (os barcos entrando), mas sim De Schäpen, die rinkomm (os barcos que entram). Apesar de uma parte do vocabulário do baixo-alemão ter sido incorporado à língua standard falada no litoral, há muitos termos que ninguém entende, a não ser os falantes nativos do norte.

Língua ou dialeto?

O baixo-alemão não é propriamente um dialeto. É uma variante lingüística com gramática e vocabulário próprios. Embora o baixo-alemão do Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, por exemplo, mal seja falado ativamente pelas gerações mais jovens, o dialeto influencia quase todo mundo. Termos próprios e a típica melodia do baixo-alemão se infiltraram na língua standard da região.
O baixo-alemão se desenvolveu de uma mistura de todas as línguas faladas no Báltico. Paralelos com o sueco, inglês e até com as línguas bálticas não são de se ignorar. A semelhança com o inglês é reforçada pelo fato de que o baixo-alemão não passou pela chamada Segunda Mutação Consonântica (Zweite Lautverschiebung) do alemão.
Sendo assim, no baixo-alemão as consoantes P, T e K permaneceram iguais ao alemão antigo, em vez de mutarem como no alto-alemão (alemão do sul e central que acabou se tornando a língua padrão): Pfeife ("cachimbo") ficou Piepe (inglês: pipe), Apfel ("maçã") ficou Appel (inglês: apple) e erzählen ("narrar") ficou vertellen (inglês: to tell).
Por volta de 1500, o alemão escrito foi padronizado de acordo com a variante falada no centro e no sul do país, o alto-alemão. Com isso, o baixo-alemão se tornou um dialeto apenas falado, o que facilitou que se diversificasse em variantes regionais com o passar do tempo, na ausência de uma norma escrita unificadora. Hoje, o baixo-alemão da Baixa Saxônia se diferencia do hamburguês e do dialeto de Mecklemburgo.
O dialeto é falado espontaneamente por tão pouca gente no cotidiano, que a associação de cultivo do falar local em Mecklemburgo se autodenomina Associação de Baixo Alemão e Folclore. Para o fundador da associação, Uwe Süssmilch, o dialeto dificilmente pode ser separado das tradições locais, como as festas de colheita e dos vilarejos locais.

Era do latte macchiato

O interior de Mecklemburgo e da Pomerânia Ocidental, em parte bastante idílico, nunca foi densamente povoado, pois a grande força econômica estava no litoral, voltada para o comércio marítimo. Rostock, a cidade mais populosa e o motor econômico do Estado, vive exclusivamente de seu porto. Nas ruas de Rostock, com seus suntuosos casarões de patrícios e a típica arquitetura gótica em tijolo exposto, ainda se nota a riqueza da antiga cidade hanseática.
A universidade atrai para Rostock muitos jovens e garante à paisagem urbana um charme internacional. Nessa cidade de 200 mil habitantes, o mecklemburguês já não é mais aquele: em vez de sentar calado, com sua boina típica, encarando a cerveja à sua frente, ele passou a carregar os óculos de sol nos cabelos e tomar latte macchiato.

Ouça a seguir dois exemplos de como soa o baixo-alemão:

Diálogo entre mãe e filho

Em baixo-alemão:

Lütt Jöking kümmt zu Mudding rin und sächt: "Du Mudding, weißt du, wat Tante Amalie mi sächt hät?" "Nee, wat hät se die denn sächt, mien lütt Schieting?" "Sie hät sächt ick sull biem Schlapen nich immer upn Rückn liegen." "Und warüm nich?" "Na, sie sächt, dann gahn mie do am Achterkopp die Hoar ut – Du, Mudding, säch ma, hätt Opa immer Koppstaan im Bett?"

Em alemão:

Der kleine Junge kommt zu seiner Mutter und fragt: "Sag mal, weißt du was Tante Amalie mir gesagt hat?" "Nein, was hat sie denn gesagt, mein Kleiner?" "Sie hat gesagt, ich soll beim Schlafen nicht immer auf dem Rücken liegen." "Und warum nicht?" "Sie sagt, mir gehen dann am Hinterkopf die Haare aus – Du Mutti, hat Opa immer Kopf gestanden im Bett?"

Tradução:

O menino vira para a mãe e pergunta:
– Sabe o que a tia Amália me disse?
– Não. O que foi que ela disse, menino?
– Ela disse que eu não devia deitar sempre de costas para dormir.
– E por que não?
– Ela disse que eu ia começar a perder os cabelos na parte de trás. Ô, mã, será que o vovô dorme plantando bananeira?
Uma conversa difícil...

Em baixo-alemão:

Wat is denn dat?
Dat is noch nix, dat waat ierst wat.
Wat waat denn dat?
Na, dat waat dat, wat dat eibn waat.
Wenn dat dat waat, wat dat eibn waat, wat waat denn dat, wat dat da waat?
Wat?
Na dat!
Wat dat?
Na dat wat da waat.
Wat waat dat, wat da wat waat?
Na dat, wat dat da waat, wenn dat waat, wat dat da waat.
Em alemão:
Was ist denn das?
Das ist noch nichts, das wird erst was.
Was wird denn das?
Na das wird das, was das eben wird.
Wenn das das wird, was das eben wird, was wird denn das, wenn das was wird?
Was?
Na das!
Was das?
 Na das, was da wird.
Was wird da was?
 Na das, was das da wird, wenn das ist, was das da wird.

Tradução:

O que é?
Não é nada, mas ainda vai dar em alguma coisa.
E no que vai dar isso?
Vai dar no que tem que dar.
Mas se isso der naquilo que tem que dar, o que vai ser daquilo se isso der em algo?
Em quê?
Ora, nisso!
Nisso o quê?
Ora, nisso em que vai dar.
O que vai dar em quê?
Ora, aquilo em que der isso, se isso for o que vai dar naquilo.

(sm)

Leia os 7 artigos anteriores.
Na sequência, próximo artigo da série: Suábio: lacônico e diminutivo

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