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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Reportagem da Deustche Welle - Juventude alemã só conhece o país reunificado


Matteo Brossette, ao lado da irmã Carla:
 'No Leste eles são mais politizados'


Cerca de 20% da população alemã não vivenciou o país dividido. Esses jovens, nascidos após a queda do Muro de Berlim, só conhecem uma Alemanha reunificada.






A RDA (República Democrática da Alemanha, de regime comunista), a queda do Muro de Berlim e a reunificação alemã são para os jovens habitantes da Alemanha de hoje apenas uma referência histórica. E muitas vezes associada somente a filmes.
Real, para eles, é apenas o país unificado. "Não acredito que ainda haja um muro na cabeça das pessoas. Eu, por exemplo, cresci já sabendo que este é um país unido", diz Matteo Brossette, aluno da escola de ensino médio St. Irmgardis, na cidade de Colônia, localizada no Oeste do país.
Para os colegas de Matteo, o passado recente alemão também não passa de história. Mesmo que muitos deles já tenham visitado os restos do Muro de Berlim, a realidade de um país dividido é, para eles, algo aprendido nos livros.

Grupo homogêneo

Matteo e Josephine: jovens 'ocidentais'
Thomas Gensicke, sociólogo do instituto de pesquisa social Infratest, sediado em Munique, acredita que, 20 anos após a reunificação alemã, os jovens, tanto no Leste quanto no Oeste do país, formem um grupo homogêneo. Tal similaridade se dá, segundo ele, porque as condições sociais na fase de crescimento dos dois grupos foram as mesmas tanto na ex-Alemanha Ocidental quanto na ex-Alemanha Oriental.
Olhando com mais atenção, porém, uma tendência salta aos olhos, observa Gensicke: no lado ocidental do país, os jovens têm melhores condições de vida do ponto de vista financeiro. Diante disso, os jovens do Leste parecem menos otimistas que os do Oeste, por terem, em parte, temores em relação ao futuro, sob o aspecto econômico.
Uma situação que não desperta nenhum espanto para o sociólogo Gensicke. "No Leste, temos um índice de desemprego entre os jovens que é quase o dobro daquele registrado no Oeste", diz ele.
Situações com as do jovem Matteo Brossette – que anseia tirar as melhores notas na escola antes de ingressar no curso de Arquitetura e ir passar uns tempos em Madri, a cidade de seus sonhos – são raras no Leste do país, onde a população, inclusive os jovens, está mais acostumada a preocupações financeiras.

Tudo pela música

Matteo usa uma das garagens de sua casa como um pequeno estúdio, onde faz mixagens e produz sua própria música – uma mistura de tecno minimal e house. A vida do jovem gira praticamente em torno da música. Embora interessado em política, ele não se envolve diretamente com o assunto.
Em uma de suas viagens a Leipzig, recentemente, Matteo observou, durante um show eletro-punk, que os jovens de sua idade no Leste alemão são bem mais politizados. "Eles vestiam camisetas de raves contra a extrema direita ou escritas make love, not war. Aqui só se usa isso durante uma manifestação. No Leste, eles andam por aí com camisetas políticas", observa Matteo, concluindo que naquela região do país as pessoas parecem expor mais suas posições políticas em público.
Sua amiga Josephine observou com certo assombro situação semelhante quando esteve na ilha de Usedom, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. "Estive em um povoado muito pequeno, onde todo mundo ouvia Böhze Onkelz", conta ela. Essa banda, embora não assuma o rótulo de extremista de direita, é superpopular na cena. "Achei assustador. Todo mundo andava por aí com camisetas de bandas de extrema direita", diz a jovem.

Juventude ocidental: acostumada ao sistema

Mesmo no Leste do país, os extremistas de direita são uma minoria, garante o pesquisador Gensicke. Ele também acredita que os jovens do Leste questionam assuntos como política, economia e temas sociais com maior intensidade que seus compatriotas do Oeste.
Segundo Gensicke, a razão disso está no fato de que, no Oeste, famílias, escola e mídia defendem um comportamento mais ajustado ao sistema que no Leste, já que todos provêm deste sistema capitalista ocidental.
Josephine, por exemplo, pode, mesmo assim, se imaginar vivendo no Leste do país. No entanto, só em uma cidade grande, diz ela, defendendo uma postura rara entre os jovens do Oeste alemão, já que a maioria acredita que o território da ex-Alemanha Ocidental continua oferecendo melhores perspectivas em termos de educação, formação profissional e emprego.
No que não deixam de ter razão: até mesmo os jovens das regiões que pertenciam à ex-Alemanha Oriental veem um futuro melhor no Oeste do país: lá onde o sistema econômico alemão, na opinião deles, "funciona melhor".

Autora: Birgit Görtz (sv)
Revisão: Alexandre Schossler

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