Números são mais do que uma unidade de medida sem sentido. Eles servem para organizar e ilustrar, além de ter uma estética própria. Com a entrada do novo ano, o número 12 entra em evidência e revela sua rica história.
Números são coisa para empregados de escritório e contadores, para áridas estatísticas e para os matemáticos – que são geralmente considerados gente tímida. Eles são o oposto de sensualidade e prazer, da exuberância de cores e sons. Quem quer, mesmo, saber quantos gramas de açúcar contém um bombom, e quais as suas dimensões? Mesmo os motoqueiros que adoram motores barulhentos jamais iriam ilustrar sua preferência num gráfico de decibéis.
E quem é que já seduziu a pessoa amada elogiando o ângulo de seu nariz ou
sussurrando-lhe complexas equações matemáticas ao ouvido?
Zodíaco é formado por doze signos. |
Força numérica
Mas, além disso, os números também estão associados a sentimentos e imagens.
Na Alemanha, o sétimo ano é considerado o mais perigoso num casamento; diz-se
que "o que é bom vem sempre em três"; sem falar na amaldiçoada sexta-feira 13.
Os ditos e as expressões idiomáticas reproduzem crenças populares, as quais –
embora hoje em dia ninguém mais creia nelas a sério – ainda definem a forma de
pensar e sentir das pessoas.
O 12 tem destaque especial, no rol dos números plenos de significado. O
Olimpo dos gregos é formado por 12 deuses principais, de Afrodite a Zeus; 12
signos do zodíaco adornam o firmamento, duas vezes doze horas resultam em um
dia. Todo um sistema de cálculo, utilizado durante séculos, baseia-se no número
12, lado a lado com o sistema usual hoje em dia, baseado no dez.
Natureza e religião
Uma quantidade popular |
O sistema duodecimal ainda é presente em nosso cotidiano. Uma dúzia de ovos
ou de bananas é um conceito bem claro. E todo vendedor que se preza destaca a
qualidade e originalidade de seu produto diante daquele "vendido às dúzias" – ou
seja, a mercadoria de massa, de qualidade inferior, dos grandes atacadistas.
Costuma-se atribuir a adoção do 12 como modelo para medida às 12 fases
lunares que marcam o decorrer de um ano. Daí, até dividir o calendário em 12
meses, segundo as luas, foi apenas um passo. Assim, o número 12 dá a impressão
de ser naturalmente dotado de um significado especial – ou, para quem é crente,
de uma força divina.
Os doze apóstolos em "A santa ceia" de Leonardo Da Vinci |
Também a cidade sagrada de Jerusalém é totalmente definida pelo número
mágico. Ela possui 12 portas, onde estão 12 anjos. Além disso, quase todas as
dimensões da cidade têm o 12 como base. Porém a Cabala, a tradição mística do
judaísmo, transcende, de longe, esses significados pitorescos. Na doutrina
apreciada por tantos esotéricos, todos os números portam consigo uma
significação interna, representando entidades próprias, para muito além de sua
aplicação prática.
E o futebol?
Contudo, longe da fé e da religião, há inúmeros exemplos que caracterizam o
12 como algo especial, em meio à diversidade numérica. A técnica de composição
desenvolvida por Arnold Schönberg (1874-1951), entrou para a história como
"música dodecafônica". Ele tratou em pé de igualdade todas as doze notas do
sistema temperado, o que exige do ouvinte uma percepção musical extremamente bem
treinada.
Gary Cooper e Grace Kelly no western que celebra o poder do meio-dia |
De forma bem menos elaborada, mas nem por isso menos memorável, o número em
questão foi imortalizado numa obra popular da história do cinema. Impossível
imaginar um momento do dia mais apropriado para o heróico Gary Cooper enfrentar
o vilão Frank Miller, do que as 12 horas: High noon (Matar ou
morrer – 1952) é um westerns mais famosos de todos os tempos.
Diante das fases da Lua e das harmonias dos sons, é de se estranhar que
outras instituições sociais não adotem o poderoso número. Talvez, um dia, o
strike no boliche não signifique derrubar apenas dez pinos. E os
craques da bola não sabem o que estão perdendo, ao ignorar o poder da religião e
a tradição da Antiguidade, entrando em campo apenas com 11 jogadores por time:
com 12, seria tão mais fácil criar um Olimpo do futebol!
Mas talvez tudo isso mude em breve, em consonância com o novo ano de
2012.
Texto: Günther Birkenstock (ms)
Revisão: Augusto Valente
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