Christian Wulff deixa o cargo depois de dois meses de suspeitas de que ele tenha usado sua posição de primeiro-ministro da Baixa Saxônia para se favorecer. Queda de confiança em seu trabalho motivou sua queda, disse.
Christian Wulff renunciou à presidência da Alemanha nesta sexta-feira
(17/02). O anúncio foi transmito ao vivo por vários canais de televisão da
Alemanha, diretamente do palácio presidencial Bellevue, em Berlim.
A renúncia era esperada desde o momento em que Wulff havia convocado a
coletiva de imprensa, nesta manhã. Também pela manhã, a chanceler federal Angela
Merkel cancelou seu embarque para a Itália e anunciou um pronunciamento logo
após o de Wulff.
Ao lado da esposa, Christian Wulff, que foi o mais jovem presidente da
Alemanha, disse que a queda da confiança em seu trabalho por parte do povo
alemão o forçou a renunciar. Na noite desta quinta-feira, a promotoria pública
de Hannover, capital do estado onde Wulff fora governador antes de ser eleito
presidente, havia solicitado a suspensão da imunidade de Wulff, para que ele
pudesse ser investigado criminalmente. Por mais de dois meses, Wulff resistiu em
meio a um fogo cruzado de muitas críticas. Depois dessa investida dos
promotores, o escândalo atingiu um nível insustentável.
"As reportagens publicadas feriram a mim e minha esposa", declarou Wulff. Ele
agradeceu o apoio da família e admitiu ter cometido falhas. "Eu desejo a todos
os cidadãos, pelos quais eu me sinto responsável, um bom futuro", disse ao se
despedir.
Caso inédito
Pela primeira vez na história da Alemanha, um presidente foi ameaçado de
perder a imunidade. Depois de uma apuração extensa, há fortes suspeitas de que
ele tenha usado sua posição de governador da Baixa Saxônia para se favorecer,
diz o relatório da promotoria.
O presidente, assim como todos os chefes de governo, ministros e
parlamentares, é protegido contra investigações durante o seu mandato. Somente o
Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, pode caçar a imunidade. Nesse
caso, segundo as regras, a promotoria pública faz o pedido ao ministro da
Justiça, que então encaminha a solicitação ao parlamento.
Uma longa tensão
As acusações contra Wulff começaram há dois meses. E praticamente todos os
dias surgiram novos detalhes sobre favorecimentos ao presidente. Wulff teria
aceitado o financiamento de uma casa em condições favoráveis, tirado férias com
tudo pago com empresários com quem mantinha relações comerciais na época em que
era governador.
Um desses empresários é o produtor de filmes David Groenewold. Ele teria pago
as férias de Wulff na ilha de Sylt, norte alemão, e o teria convidado para
festejar a Oktoberfest, em Munique. Groenewold também teria presenteado Wulff
com um telefone celular. A promotoria pública agora tenta descobrir se, em
troca, o então governador da Baixa Saxônia teria disponibilizado milhões para os
projetos de Groenewold.
Em seu discurso, Wulff disse que abre caminho para a escolha do novo
presidente alemão Ele chegou ao posto em meados de 2010 – depois de três rodadas
de votação na Assembleia Federal. Ele derrotou o concorrente Joachim Gauck,
ativista na antiga Alemanha Oriental. Christian Wulff sucedera a Horst Köhler,
que também renunciou após ter dado declarações polêmicas.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer
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