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Mostra "Beleza e Revolução", em Frankfurt, rastreia os ideais do belo da Antiguidade e mostra como eles ainda se refletem nos dias de hoje. Da publicidade e moda à cirurgia plástica
Mostra "Beleza e Revolução", em Frankfurt, rastreia os ideais do belo da Antiguidade e mostra como eles ainda se refletem nos dias de hoje. Da publicidade e moda à cirurgia plástica
Ao procurar na internet pelo conceito "beleza na arte", chega-se logo ao site de um salão de beleza. Isso é sintomático. Em vez de história da arte, cultura e estética, os usuários de nossos dias se deparam em primeiro lugar com as ofertas de uma firma de wellness: o tema beleza é hoje onipresente, no universo das amenidades, da televisão, da internet, da publicidade.
Afinal de contas, o assunto não apenas permeia o quotidiano das pessoas numa dimensão espiritual, mas modifica seus corpos, no sentido mais literal do termo. Cada vez mais gente se submete a cirurgias plásticas estéticas, numa tentativa de se aproximar o máximo possível de um ideal de beleza aparentemente definido de forma absoluta.
A arte pode dar respostas?
Mas: o que é beleza? Quais são suas fontes? Qual concepção de beleza é disseminada? As respostas estão na arte e na cultura? Uma exposição no Museu Städel, em Frankfurt, investiga a origem dos ideais de beleza neoclássicos e românticos.
Embora Beleza e Revolução não tenha como meta primeira identificar quais dos antigos ideais de beleza mantiveram sua relevância na modernidade, ela é bastante reveladora para o visitante contemporâneo. Pois a mostra conscientiza que a arte sempre refletiu sobre a beleza, projetando-a na tela ou posicionando-a no espaço.
A arte tanto estabelecia ideais quanto os reproduzia. Essa era uma de suas principais funções. "Durante séculos, a arte foi a instância do belo", escreveu o crítico Hanno Rautenberg por ocasião de uma exposição em Karlsruhe sobre cultos de beleza na arte contemporânea. A arte "era considerada a própria beleza. Suas imagens marcaram as nossas imagens de uma feminilidade casta ou exuberante, de masculinidade soberba ou frágil".
Em busca do ideal
A mostra em Frankfurt destaca agora os períodos neoclássico e romântico na Alemanha (aproximadamente de 1785 a 1835). "Como sempre, trata-se da busca de um ideal. O termo já oculta em si o problema: é aquele pequeno ou grande 'a mais', além do que é dado pela natureza", explica Eva Mongi-Vollmer, curadora da exposição, em entrevista à Deutsche Welle.
"A satisfação com o estado natural segue irrealizada, o anseio de atingir um ideal continua vivo", comenta. É o anseio do ser humano pelo aparentemente perfeito, pela "beleza definitiva". Algo que sempre houve, desde a Antiguidade greco-romana, passando pelo final do século 18 e épocas posteriores – até hoje.
Evidentemente é ampla a gama de manifestações do belo na história da arte. Os conceitos de beleza estavam em permanente transformação, tanto na sociedade quanto na arte. Antigamente a adiposidade era "bela". Na Antiguidade, o corpo idealizado era a medida de todas as coisas, como demonstram esculturas gregas e romanas famosas. O ideal de beleza dessa era marcou fortemente as cabeças modernas. Um exame da publicidade atual dos salões de beleza e do setor da moda revela com frequência representações e medidas próprias da Antiguidade.
Às vezes gordo, às vezes magro...
Na Idade Média, porém, nem sempre foi assim. Às vezes dominavam as formas mais esbeltas, às vezes as bem rechonchudas. Também no Renascimento e o Barroco os acentos variaram muito. Até quem não tem interesse por arte, sabe reconhecer as formas roliças características do pintor flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640).
O Classicismo e o Romantismo resgataram as imagens da Antiguidade. E foi sobretudo o historiador de arte alemão Johann Joachim Winckelmann a alçar ao pedestal o estilo artístico dos gregos e romanos, com sua"Bíblia do Classicismo" A história da arte da Antiguidade. Uma influência que não se limitou às fronteiras nacionais, pois o texto foi traduzido em diversas línguas, encontrando ampla divulgação na Europa.
"De fato, a Antiguidade era considerada intocavelmente bela", diz Mongi-Vollmer. "Na concepção de arte da época, a beleza era a verdadeira meta de toda criação artística. Mas a beleza não era apenas aquela que se podia ver com os próprios olhos, no contexto individual, fossem pessoas, paisagens ou espaços. A beleza era um ideal que, em sua forma mais elevada, não existia na natureza. Ou seja, era antes uma ideia de beleza. E a partir dessa ideia criavam-se as obras de arte", explica a curadora.
Beleza = kitsch?
No século 20, os ideais de beleza foram se tornando cada vez mais diferenciados, chegando-se até à dissolução de todos os padrões. Pablo Picasso e outros artistas se deleitaram em destruir a unidade de corpo, espírito e beleza. E hoje, pelo menos em certos meios modernistas, a beleza clássica é vista por como algo suspeito, a um passo do kitsch e da mera decoração.
Entretanto, apesar de todo o movimento de oposição moderno, apesar de todo o ceticismo quanto à beleza e do retorno aos valores interiores, algo parece ter se preservado: "Ainda que imaginemos sermos livres e autodeterminados, na realidade nós apenas seguimos os instintos de beleza mais primordiais", postula o crítico de arte Hanno Rautenberg.
Costuma-se esquecer que, ainda hoje, setores econômicos inteiros – quer se trate da indústria de cosméticos ou da cirurgia plástica – se baseiam nas imagens idealizadas da beleza clássica e antiga, vendendo-as e comercializando-as. Neste sentido, é bom que exposições como a do Museu Städel de Frankfurt relembrem de vez em quando essas raízes, geradas na arte e na cultura.
Data 21.03.2013
Autoria Jochen Kürten (sv)
Edição Augusto Valente
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