quinta-feira, 11 de abril de 2013

Exposição de arquitetura busca melhorar ensino em bairro pobre de Hamburgo

Deutsche Welle


Não só de arquitetura vive a IBA 2013. Com a maioria de seus projetos de construção centrados numa área de imigrantes de baixa renda, a exposição tem como objetivo melhorar as oportunidades educacionais na região.

As escavadeiras não param, enquanto homens trabalham entre cabos, tubos e reboques. O grande projeto educacional da exposição internacional da construção IBA, que acontece em Hamburgo, ainda é um enorme canteiro de obras. O centro educacional Tor zur Welt (portão para o mundo, na tradução do alemão) ocupa 20 mil metros quadrados e será aberto apenas em maio.
O centro educacional "Tor zur Welt" ainda está em construção
Além de três escolas, o local vai contar com um café para os pais, um jardim de infância, um centro de educação para adultos e um planetário. O grande uso de vidro proporciona transparência, os revestimentos de madeira passam uma sensação de calor. As crianças poderão se divertir correndo pelos corredores curvados. Para o telhado, um escorregador está nos planos.
No total, 60 projetos serão apresentados na IBA 2013, a maioria em Wilhelmsburg, bairro de baixa renda da cidade no norte da Alemanha. Foram sete anos de preparativos para a primeira IBA em Hamburgo, que começou no último fim de semana.

Atender às necessidades do bairro

"A arquitetura aberta e amigável deve se comunicar com todos", diz a funcionária da IBA Anne Krupp sobre o projeto Tor zur Welt. O centro educacional é extremamente necessário para a região, afirma Christoph Boris Frank, diretor da escola Elbinsel, de Wilhelmsburg. "Quase não temos contato com muitos dos pais dos alunos do ensino fundamental. Esperamos que atividades e lugares como o café possam mudar essa situação. Se conseguirmos atrair os pais, aumentaremos as oportunidades educacionais das crianças", explicou.
Desenhos coloridos mostram os layouts dos diferentes prédios
Não por acaso a IBA 2013 foca na educação. Em Wilhelmsburg, ao sul do rio Elba, os moradores são em sua maioria imigrantes, e 60% não têm o alemão como língua materna. Entre os jovens com menos de 15 anos, a proporção sobe para 80%. Muitos vivem, mesmo trabalhando, na pobreza. Na quarta série da escola Elbinsel, nenhum dos alunos é de origem alemã. Mesmo em questões simples, quase nenhum dos alunos de 10 anos consegue responder num alemão correto.

A exposição também traz preocupações

Provisoriamente, os alunos da escola Elbinsel ainda se apertam para assistir às aulas dentro de um contêiner. Das janelas, eles podem ver a nova escola, que vai ficando pronta pouco a pouco e para a qual eles se mudarão em maio. "Lá é muito maior, as paredes são mais grossas, poderemos aprender melhor", disse um aluno cheio de esperança. "Isso é muito bom", completou um de seus colegas.
Algumas das crianças já perceberam que muitos novos prédios estão sendo construídos em seu bairro, mas nenhuma delas sabe que as novas construções fazem parte de uma grande exposição. Muitos dos jovens não têm uma ideia real do que está acontecendo. Outros temem que os novos prédios sejam responsáveis pelo aumento do preço dos aluguéis, consequentemente expulsando os moradores de baixa renda do bairro.

Diversidade do bairro

A IBA tentou incorporar as expectativas dos moradores a cada um dos projetos. "Os arquitetos ficaram muitas vezes surpresos", disse Robert Schreiber, do conselho escolar de Hamburgo. Ele coordena o projeto Tor zur Welt. "O pátio, por exemplo, deveria se chamar Ágora", disse Schreiber fazendo referência à praça central das antigas cidades gregas. Mas a maioria dos alunos não sabia o significado da palavra. Optou-se então pelo nome Ancoradouro, e cinco objetos em forma de navio representarão a diversidade do bairro.
Interior do inovador Centro de Linguagem e Movimento
Além do Tor zur Welt, um centro de linguagem e movimento, localizado no outro extremo do extenso bairro hamburguês, é algo totalmente novo e tem tudo para dar um novo rumo à educação no local. O iluminado edifício cor de laranja é um local para as crianças extravasarem. "Movimento incentiva a concentração e facilita o desenvolvimento da linguagem. Tudo isso poderá ser feito aqui, o que é uma grande vantagem", disse Anne Krupp, da IBA.

Educação permanente

Para Wolfgang Maack, diretor de outra escola do bairro, a iniciativa é importante e necessária, mas ele alerta para o excesso de euforia. "Queremos luz e não apenas o projeto de um farol. O farol ilumina em cima e longe, mas não embaixo e perto. Gostaríamos que, em 2014, ninguém apagasse essa luz que está sendo acessa." A campanha em prol da educação em Wilhelmsburg não deve durar só durante a IBA, ela deve prosseguir e atingir seus objetivos, afirma.
Por isso, diretores de escolas do bairro haviam exigido, numa carta aberta, que mais fosse feito para dar oportunidades iguais às crianças e adolescentes do local. Os novos prédios são ótimos, mas sem um investimento extra e mais atenção aos professores, nada mudará, dizem.

Data 28.03.2013
Autoria Kathrin Erdmann (mas)
Edição Alexandre Schossler


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