Deutsche Welle
Poucas coisas são tão tipicamente alemãs quanto a Hofbräuhaus de Munique. A cervejaria, que completa 400 anos neste verão, já matou a sede da corte alemã, de turistas do mundo todo e até mesmo de um exército adversário.
O movimento na Hofbräuhaus começa cedo. A cervejaria abre todos os dias às 9h, mas os funcionários já começam a se preparar às 7h para abrir as portas.
Numa manhã comum, o movimento ainda é pequeno às 10h. A banda começa a se aquecer, dúzias de garçonetes e garçons correm de um lado para o outro, estendem toalhas de mesa, distribuem cardápios e batem papo entre si. Mais tarde, quando hordas de turistas invadirem o amplo salão, eles não terão mais tempo para isso. Nos dias de pico, o número de visitantes chega a 30 mil.
Os freqüentadores assíduos Josef Wagner e Silvester Lutz são os primeiros a chegar. Eles freqüentam a Hofbräuhaus há décadas e, nostálgicos, dizem que "antigamente" era melhor, porque o burburinho começava logo cedo. "Há 30 anos éramos 100 pessoas na mesa. Naquele tempo, a festa já começava às 7h, e até mesmo os garis vinham para cá. Era uma alegria!", lembra Lutz.
Bebida salvadora
O significado da Hofbräuhaus de Munique vai mais longe do se possa imaginar. Sua construção, no fim do século 16, salvou as finanças da Baviera. Na época, os duques da região importavam sua cerveja da pequena cidade de Einbeck, na Baixa Saxônia, e estavam cronicamente falidos. A corte apreciava até demais aquele "suco de cevada".
"Eles mamaram os cofres públicos até a ruína", ri o porta-voz da cervejaria, Stefan Hempl. Segundo ele, a insaciável sede da corte levou o duque Guilherme 5º a construir uma cervejaria própria. Inicialmente, a produção era feita no chamado Alter Hof, mas a partir de 1607 passou ao local hoje denominado Am Platzl.
A cerveja produzida na Hofbräuhaus Am Platzl foi apreciada desde o início, e logo começou a colecionar histórias sensacionais. Reza a lenda que desempenhou um papel fundamental na Guerra dos 30 Anos, conseguindo apaziguar os suecos que ameaçavam invadir a cidade.
"Em 1632, o exército sueco estava diante dos portões de Munique e exigia uma fortuna para poupar a cidade," conta Hempl. "O pagamento foi feito em moeda natural: os suecos receberam mil baldes de cerveja da Hofbräuhaus, o equivalente a uns 60 mil litros."
Incêndios e comunismo
Como se matar a sede de nobres e servir de moeda de troca na guerra não bastasse, a cerveja mais uma vez salvou o dia quando a ópera da cidade pegou fogo, em 1823. Era inverno e a água para extinguir incêndios estava congelada. A solução foi apagar o fogo com cerveja. "E esta veio, como poderia ser diferente?, da Hofbräuhaus Am Platzl", orgulha-se Hempl.
A cervejaria guarda no nome a sua linhagem nobre – literalmente, Hofbräuhaus significa "cervejaria da corte". Não demorou muito, porém, para que o local que se tornasse ponto de peregrinação para aficionados da cerveja do mundo todo.
A cervejaria atraiu também personalidades ilustres. No século 19, era freqüentada pela imperatriz Elizabeth da Áustria, Sissi, em visitas à sua Baviera natal. Em 1913, recebeu Vladimir Lênin, com sua esposa, que escreveu em suas memórias: "Nos lembramos com carinho da Hofbräuhaus, onde a boa cerveja atenua as diferenças de classe".
Mikhail Gorbatchov também tomou seus goles de cerveja por lá, assim como Wolfgang Amadeus Mozart, que teria escrito até um poema sobre o local – basta perguntar ao chefe dos garçons Wolfgang Sperger, que ele recita de cor.
Garantia de civilização doméstica
Hoje em dia, uma visita à Hofbräuhaus continua sendo programa obrigatório para os turistas em Munique, ilustres ou não. Enquanto gente de todo o mundo se surpreende com as possantes garçonetes que equilibram litros de cerveja ao mesmo tempo, os locais continuam freqüentando a cervejaria, e sentem-se muito em casa.
"Eu venho à Hofbräuhaus porque posso encontrar amigos, conversar um pouco com as pessoas, é aconchegante", diz um habitué de Munique. "Gosto de ver os estranhos, principalmente se há mulheres bonitas. De vez em quando jogar um pouco de cartas... Minha mulher sabe disso, sabe que o homem precisa disso. Assim ficamos mais civilizados em casa. Eu comecei a trabalhar aqui em 1955 como cervejeiro e venho para cá praticamente todos os dias desde que me aposentei. Isso me faz bem, preciso disso. É o meu remédio."
- Data 12.07.2007
- Autoria Ernst Weber (jc)
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