Deutsche Welle
Ao ser lançada na IFA 1963, a fita cassete foi aclamada como maravilha da tecnologia e logo adotada pelos jovens. Apesar da má qualidade de áudio e da concorrência digital, ela sobrevive hoje como objeto "cult".
Quem conheceu não se esquece: as pequenas fitas magnéticas cassete eram vendidas com 30, 60, 90 ou até 180 minutos de duração. As gravações nelas eram marcadas por um chiado constante, mesmo nos aparelhos dotados de sistemas de redução de ruído, como o Dolby.
De tempos em tempos, a fita ficava presa na cabeça de gravação. A solução era tirá-la do compartimento, tomando cuidado para não romper nem amassar a fita. Em caso de sucesso, voltava-se a enrolá-la com um lápis no carretel interno.
Com o lançamento do compact cassette, musicassette ou – no Brasil – K7, na feira internacional de eletrônicos IFA de 1963, finalmente passou a ser possível gravar músicas do rádio que não fossem "quadradas" – sem colocar em risco o caríssimo gravador de rolo Grundig do papai. Podia-se, ainda, registrar o som dos programas favoritos de TV, ou produzir as próprias peças de rádio-teatro.
O autor e jornalista Jan Drees reúne recordações como essas em seu livro Kassettendeck – Soundtrack einer Generation (Gravador cassete – Trilha sonora de uma geração). Mas quando adolescente ele não comprava seus próprios cassetes C90, e sim os pegava escondido do armário do pai, disse à DW. Também aprendeu a criar mixtapes com o pai, que costumava gravar canções antigas do rádio e arquivá-las.
Risco para indústria fonográfica
Comparada com a qualidade e conforto do atual formato digital MP3, é quase inimaginável que os cassetes de música tenham se estabelecido como objeto de culto. Mas até hoje ainda há gente que faz "mixtape parties", em que os convidados tocam uns para os outros as suas próprias seleções de músicas. Atualmente, fitas cassete virgens são um artigo em extinção e muito disputado.
O áudio relativamente deficiente não impediu a Gema – entidade guardiã dos direitos autorais musicais na Alemanha – de, na época, classificar como "roubo" a nova e simples possibilidade de reprodução. Seu argumento era que a prática estaria privando compositores e letristas dos royalties que lhes cabiam.
"Em 1985, a Gema conseguiu finalmente impor que, na compra de cada cassete virgem de 60 minutos, fosse paga uma taxa de 19 pfennige [aproximadamente 0,30 real], a ser distribuída entre os autores", relata Drees.
O jornalista enfatiza que a reprodução doméstica de música não implica automaticamente uma queda nas vendas das gravações comerciais. Entretanto, em meio ao atual debate sobre os MP3, algumas bandas alemãs exigem dinheiro de plataformas de internet como Google e Myspace, além de uma taxa sobre mídias virgens. É o caso das veteranas Die Ärzte e Die Toten Hosen ou da novata Jupiter Jones, por exemplo. Trata-se, portanto, de mais um caso para os ávidos cobradores da Gema.
Fitas ameaçam regime comunista
Em suas pesquisas para o livro Kassettendeck, Drees desencavou as diferenças na relação das duas Alemanhas com a fita cassete. Não só a qualidade técnica das fitas era bem melhor no Oeste do que na comunista RDA.
"Na RDA, era relativamente difícil ter acesso a bons cassetes. Eles também tinham um significado diferente daqui [na Alemanha Ocidental]: o Estado os limitava rigorosamente, e tinha até um certo medo de seu poder. Pois, de uma hora para a outra, as bandas ganhavam a possibilidade de gravar e reproduzir seus próprios álbuns", afirma Drees. "Nos anos 80, só havia dois selos fonográficos na RDA, e funcionários da cultura determinavam o que podia ser publicado. Mas, agora, os grupos punk ou de free jazz eram independentes."
Além disso, os jovens da Alemanha Oriental, sob regime comunista, podiam gravar as canções de seus heróis clandestinos da rádio ocidental. "Nos anos 80, aconteciam em Berlim [Oriental] muitas festas em que se tocava música do Oeste", conta Drees.
Retorno como objeto de culto e arte
Hoje, a maioria dos gravadores cassete está jogada por aí, juntando poeira em algum canto, enquanto o passar do tempo danifica as fitas magnéticas. Mas, assim como voltam à moda os relógios de pulso com mostrador de quartzo dos anos 70, ainda há muitos fãs do velho compact cassette.
Os cassetes representam um papel especialmente importante nas festas indie, revela o autor Drees. "Mixtapes são preparados, por exemplo, para o festival Melt!, perto de Passau, na Saxônia-Anhalt. Há dois anos, o DJ Christian Vorbau – com quem trabalhei no meu livro – preparou uma fita para o Melt!, que podia também ser baixada do site do festival."
Existem capas para smartphones em forma de fita cassete, assim como adesivos e camisetas com sua imagem. "Mas o cassete também sobreviveu como objeto de arte", afirma Drees, tomando Gregor Hildebrandt como exemplo.
"O artista criou obras de arte gigantescas a partir de velhas fitas cassete. Elas são expostas por todo o mundo e também vendidas. Bandas como os Beastie Boys são fãs de Gregor Hildebrandt e valorizam muito o que esse berlinense faz com os cassetes." Confirmando a tendência, estão para sair na Alemanha mais dois livros a respeito desse arcaico meio de reprodução fonográfica.
- Data 17.08.2013
- Autoria Conny Paul / Augusto Valente
- Edição Luisa Frey / Alexandre Schossler
- Link permanente http://dw.de/p/19QZW
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