Deutsche Welle
A dominância do compositor clássico-romântico alemão no gênero erudito é inegável. No entanto sua influência vai mais longe. Lançada como desafio, "Roll over Beethoven" desencadeou uma febre beethoveniana no mundo pop.
De Para Elise como canção de amor melosa, até versões rock de suas sinfonias, há décadas Ludwig van Beethoven (1770-1827) é um astro tão brilhante quanto inesperado no céu da música popular. Quem diria: ele forneceu a inspiração musical para alguns das mais bem sucedidos números pop de todos os tempos.
Durante a comemoração do bicentenário do "Titã da Música", em 1970, também a Espanha quis honrar o mestre. Um arranjo pop da Ode à Alegria, de sua Sinfonia nº 9, foi a opção. O maestro Waldo de los Rios produziu A song of joy, tendo como intérprete o cantor de rock Miguel Rios.
O compacto virou hit mundial, vendendo 7 milhões de cópias – apesar da pronúncia em inglês praticamente incompreensível. Nos países de idioma alemão, ele se manteve nas paradas de sucesso durante semanas, chegando a ocupar o primeiro lugar.
"Roll over..."
Tudo começou possivelmente em 1956, quando o cantor e guitarrista negro Chuck Berry lançou seu hino à nova era do rock'n'roll. Roll over Beethoven era uma provocadora conclamação à rebelião musical. Berry expressava assim o espírito irreverente das décadas de 50 e 60: aqui vem uma nova música, um novo som, "rola pro lado, Beethoven, e vai contar a novidade pro Tchaikovsky".
Entre o público conservador, esse "barulho antimusical" causou indignação, mas para toda uma nova geração de músicos, Chuck Berry passou a ser um herói. A canção foi regravada incontáveis vezes, inclusive por roqueiros do quilate dos Rolling Stones, Status Quo ou Uriah Heep.
Além deles, os Beatles cantavam Roll over Beethoven já desde suas primeiras apresentações nos clubes de Liverpool, e a Electric Light Orchestra tomou emprestado o inconfundível "ta-ta-ta-taaa" da Quinta sinfonia para a introdução de sua versão cover.
Rock com Beethoven
Embora Berry declarasse Beethoven ultrapassado, seu protesto cantado desencadeou uma verdadeira febre beethoveniana no fim da década de 60. Os músicos passaram a escutar com atenção o "velho" compositor clássico, descobrindo nos motivos e temas musicais de suas obras a base para novas canções. O lema deixou de ser "Rock em vez de Beethoven", passando a "Rock com Beethoven".
Também os Beatles usaram essa fonte de inspiração. Onze anos mais tarde, John Lennon se recordaria da inspiração para sua Because, gravada em 1969. "Eu estava deitado no sofá, escutando Yoko tocar a Sonata ao luar. Eu perguntei se ela não podia tocar os acordes na ordem inversa. Ela tocou de trás para a frente, e daí nasceu Because." Bela história – embora uma análise musical detalhada não a confirme cem por cento.
Também em 1969, um conjunto de rock da Holanda atraía a atenção. Formado pelo trompetista de jazz Rein van den Broek e o tecladista Rick van der Linden, o Ekseption se tornou uma das bandas mais populares da Europa com arranjos rock de peças clássicas. Sua versão da Quinta de Beethoven galgou as paradas, também para além do continente.
Dos embalos de sábado à balada romântica
Sete anos mais tarde, a "Sinfonia do Destino" também garantiria o primeiro lugar nas paradas da música pop a Walter Murphy, um pianista de jazz que teve a ideia de misturar música clássica com ritmo disco.
Além disso, sua A fifth of Beethoven atraiu a atenção de um produtor cinematográfico, que adquiriu os direitos da música para utilização num filme. Para Walter Murphy, foi o negócio de sua vida: tratava-se de Os embalos de sábado à noite (Saturday night fever), cuja trilha sonora é, ainda hoje, uma das mais vendidas do mundo.
Salto para 1984: conhecido tanto por suas baladas sentimentais quanto por canções no espírito roqueiro, Billy Joel lançava o álbum An innocent man. Trata-se de um tributo à música de sua infância, não só ao rock'n'roll dos anos 50 e 60, mas também a seu compositor preferido, Ludwig van Beethoven. Assim, na canção de amor This night, Joel cita o tema doAdagio da Sonata op. 13, "Patética", declaradamente a sua peça favorita.
A lista prossegue pelas décadas de 1990 e 2000, por exemplo com a banda de heavy metal Savatage, o pioneiro francês da música eletrônica Jean-Jacques Perrey, o rapper Nas, ou a ópera rock Beethoven's Last Night, da Trans-Siberian Orchestra. Qual é o segredo desse interesse ininterrupto do mundo pop pelo gênio clássico? É o fã Billy Joel quem dá uma pista.
"Eu gostaria de ter sido Beethoven e os Beatles, ao mesmo tempo. Não por causa da fama, mas por causa da criatividade deles. Beethoven está aí há mais de 200 anos e vai se manter mais 200, fácil. Na música dele, a gente percebe a luta consigo mesmo. E é isso o que adoro nele, essa humanidade que se revela na música."
- Data 05.09.2013
- Autoria Marita Berg / Augusto Valente
- Edição Roselaine Wandscheer
- ILink permanente http://dw.de/p/19bc8
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