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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Festival Beethoven: 170 anos de história tortuosa e surpreendente

Deutsche Welle

A partir de primeiros esforços de Liszt, na primeira metade do século 19, e apesar de resistência política e problemas financeiros, Beethovenfest está firme no cenário musical internacional. E se prepara para nova fase.
Franz Liszt (1811-1886), o pai da ideia, aos 47 anos
Na Münsterplatz, a praça da catedral de Bonn, o monumento do escultor Ernst Julius Hähnel a Ludwig van Beethoven (1770-1827) está sempre cercado de turistas. Inaugurada em 1845, trata-se de uma das estátuas mais antigas do compositor, e – assim como a casa onde nasceu Beethoven, na Bonngasse – tornou-se marca registrada da cidade.
Por incrível que pareça, de início Bonn mostrava pouco interesse pelo mais ilustre entre seus filhos. O compositor e pianista Franz Liszt teve que investir bastante, do próprio bolso, para que o monumento fosse inaugurado no 75º aniversário de Beethoven. A ocasião foi acompanhada de um festival musical de três dias, e assim nascia o Festival Beethoven de Bonn, ou "Beethovenfest".
Longa resistência inicial
Após a partida de Liszt da cidade, a ideia do festival ficou adormecida por mais de um quarto de século. A segunda edição teria que esperar até 1871, e mesmo depois – apesar do interesse crescente na obra beethoveniana – permaneceu grande a resistência contra sua realização em ritmo mais ou menos regular.
Somente a partir de 1931 o Beethovenfest passou a ser um evento anual. Após a pausa ditada pela Segundo Guerra Mundial, ele retornou em 1947, agora com periodicidade bienal e alternando seu foco entre música sinfônica e de câmara.
Inaugurada em 1959, a sala de concertos Beethovenhalle é até hoje um dos principais palcos do festival. Mais tarde se construiria o Kammermusiksaal, dedicado à música de câmara, ao lado da Casa de Beethoven.
Quando, em 1970, se comemorou o bicentenário do genial filho de Bonn, o Beethovenfest já era conhecido para bem além das fronteiras da Alemanha.
Praça do mercado e antiga prefeitura de Bonn em foto de 1899

Arte versus finanças
Na época, a pequena cidade às margens do rio Reno era a capital da República Federal da Alemanha (RFA), e o festival era, para ela, também um objeto de prestígio artístico.
Não só ele tinha os mais renomados solistas, regentes e orquestras entre seus convidados: seu público também primava pela internacionalidade, já que grande parte do pessoal dos consulados e embaixadas locais era frequentadora cativa do evento.
Do ponto de vista financeiro, no entanto, o Beethovenfest só se beneficiava até certo ponto do status da capital federal. Tanto que, devido a cortes financeiros, a partir de 1974 passou a ser trienal.
Em 1990 houve a reunificação do país, com a absorção pela RFA da República Democrática Alemã (RDA), desde 1949 sob regime comunista. E nem bem a elite política nacional se deslocara em direção à nova capital, Berlim, os administradores de Bonn passaram a pensar alto sobre uma eventual extinção do festival – alegando escassez de subsídios e crescentes buracos no orçamento municipal.
Em reação, fundou-se em 1995 uma iniciativa de cidadãos com o fim de estabelecer o Beethovenfest como evento anual.
Fórmula de sucesso
Do primeiro festival de três dias, nasceu um evento com quase seis semanas de duração, proporcionando cerca de 70 concertos, além de exposições, oficinas e leituras. Atualmente, os locais de apresentação abarcam todo o centro e também os arredores de Bonn.
Beethovenfest: logo com o traço do mestre
A obra beethoveniana segue sendo o coração do festival, porém cada vez mais contextualizada e contrastada com a música contemporânea e gêneros musicais para além do erudito.
Ao assumir a direção geral do evento em 2004, a gestora cultural Ilona Schmiel – com formação em pedagogia musical e filologia clássica – enfatizou novos aspectos, tanto do ponto de vista artístico como no fomento às novas gerações de músicos.
Entre outros projetos, ela lançou o Junges Beethovenfest, voltado para o público jovem. Além disso, desde 2001, em parceria com a Deutsche Welle, o Orchestercampus abre os palcos do festival a orquestras juvenis de todo o mundo. Em 2010, por exemplo, essa parceria midiática trouxe a Bonn a Sinfônica Heliópolis, de São Paulo.
Mudar para permanecer
Nos últimos anos, Ilona Schmiel tem alcançado grande êxito em sua função, transformando o Festival Beethoven de Bonn num dos mais importantes do país, com considerável projeção também no cenário internacional. Em 2014, ela assume a chefia da sociedade Tonhalle de Zurique, que mantém uma prestigiosa sala de concertos e orquestra homônima.
Nike Wagner, nova diretora do festival
A tocha do Beethovenfest passa, então, para uma das bisnetas do compositor Richard Wagner: Nike Wagner, que também já é uma bem sucedida diretora de festival, tendo garantido gabarito internacional ao Kunstfest Weimar.
Cabe esperar que acentos a nova diretora conferirá ao evento em Bonn, e como este se desenvolverá no futuro. Quem sabe, ela também se deixará guiar pela frase cunhada pelo próprio Beethoven, utilizada como slogan do festival em 2012: "A verdadeira arte tem vontade própria, e não se deixa constranger em formas lisonjeiras".
  • Data 04.09.2013
  • Autoria Klaus Gehrke / Augusto Valente
  • Edição Roselaine Wandscheer
  • Link permanente http://dw.de/p/19akf


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