Amigos de Itapiranga, por sintonia à cultura, a mesma que nos move a atualização do Site/Blog do centro cultural, quase diariamente e também com atividades culturais dentro do C.C. 25 de Julho de Blumenau e tudo o mais relacionados às mesmas, tem acompanhado este trabalho, do oeste catarinense - da linda cidade de Itapiranga.
Itapiranga |
Itapiranga foi fundada por migrantes gaúchos com descendência alemã e italiana, no início do século XX, os quais deixaram suas "marcas" na cidade", através de sua maneira de morar e de suas atividades. Lá, como aqui, muitos tem preocupações e cuidados com a manutenção e a preservação desta história e cultura, através de algumas iniciativas e ações. Muitas vezes com bons resultados, noutras, nem tanto, mas o suficiente para fazer com que estas pessoas não desistam, do prazer de poder observar, preservar e contribuir com este trabalho.
Para saber mais clicar sobre: Mensagem de Itapiranga...Técnica Enxaimel
Recebemos, através de uma correspondência eletrônica, um belíssimo artigo sobre um pouco deste trabalho, relacionado ao patrimônio histórico arquitetônico de Itapiranga da Srta. Simone Eidt, estudante de Arquitetura, estagiária de Turismo na Prefeitura Municipal de Itapiranga e uma entusiasta do assunto.
O artigo permite-nos conhecer um pouco mais sobre esta arquitetura presente em algumas cidades no oeste de Santa Catarina. Características muito próprias de um períodos e de uma cultura presente, ainda, no casario e em utensílios utilizados por antepassado, muitas vezes, parte de uma história muito recente e que, para muitos, passa desapercebido.
É preciso que as pessoas se conscientizem, lá, como aqui, sobre a importância de preservar e cuidar deste patrimônio, que muitas vezes, erroneamente achamos ser desprovido de valor.
Sempre é bom lembrar, que para chegarmos a uma história milenar, é necessário passarmos e preservarmos a história centenária.
------
Artigo - Itapiranga
----- Por Simone Eidt
O município Itapiranga aparece na III década do século XX no cenário nacional
como recorte geográfico e espaço de acolhimento de Alemã descendentes da II e
III gerações de imigrantes que povoaram a encosta inferior do Rio Grande do Sul
e Santa Catarina, no século XIX, e foram recrutados pela Colonizadora
Volksverein e pela Igreja Católica para reinventar suas tradições
negligenciadas ou eclipsadas nos locais de origem. Assim, de forte influência
européia e da Igreja, o município apresenta elementos culturais riquíssimos
como: prédios históricos, culinária, bandas, corais, grupos folclóricos e
outros. O caráter universal que começou a imperar nas relações sociais, econômicas
e culturais nas últimas décadas tem sido implacável com os suportes matérias e
culturais da região.
Mapa das colônias alemãs no sul do Brasil,
utilizado para propaganda
pelas empresas colonizadoras.
Toda a organização dos pioneiros de origem européia gravitava em torno
da família e da vivência comunitária. No universo pioneiro, algumas
características serviam de andaime e alicerce. Ideais se cruzavam no espaço da
família, na escola e na vida social. Regras sociais e costumes foram paulatinamente
incorporados a partir de mecanismos de coerção social. Sem parâmetros exógenos,
as instâncias da família, escola, comunidade e religião transmitiram os valores
e os ideais da cultura.
Presos ao mundo natural e linear, avesso ao moderno,
seus personagens encontraram um campo privilegiado para práticas coletivas,
solidárias e coesas. Numa região, pensada e criada a partir do epicentro
religioso, a compartimentação horizontal refazia-se, continuamente, por meio de
um permanente debate interno. Princípios uniformes e intocáveis coordenavam as
ações individuais e coletivas. A intolerância era total para tudo o que pudesse
despertar a desconfiança e a indisposição da comunidade. No coletivo, a
população buscava o sentido para a vida local. Um cotidiano compartido e complementar,
embora conflitivo e hierárquico constituiu a garantia de sobrevivência. Mutirões
comunitários para edificar obras públicas e ajudar famílias desestabilizadas envolviam
a todos, trata-se acima de tudo de um ato de solidariedade.
Morin (2003, p.124)
enfatiza de que: “A fraternidade solda a comunidade”.
O isolamento da região
provocou condicionamentos adaptativos. Uma multiplicidade de técnicas locais,
geradas espontaneamente, movia os pioneiros. Todas as famílias eram potencialmente
produtoras de alimentos, objetos de trabalho, roupas, calçados, móveis e outros.
A necessidade fez aflorar a criatividade das pessoas. Inventaram-se moinhos, prensas,
rodas d´água, instrumentos de trabalho, cachaça, vinho, cerveja. Em cada família
se gestava um cientista natural, um mecânico, um construtor, um sapateiro, uma costureira,
um farmacêutico, uma parteira...
No isolamento da vida pioneira, a transmissão de saberes passava pela
linhagem familiar ou pela instituição escola/Igreja. Sem parâmetros exógenos,
as instâncias da família, escola e religião transmitiram os valores e os ideais
da cultura. Assim, o mundo, limitado e restrito, limitou possibilidades e
serviram como ponto de estrangulamento, gerações inteiras foram vítimas do
silêncio e do debate impermeável.
Como descrito anteriormente, a região de Itapiranga foi colonizada a
partir de 1926. O perfil das primeiras famílias era diverso. Muitos dos
pioneiros foram imigrantes alemães e que conheciam outras miragens. Eram
médicos, agrônomos, professores, políticos, engenheiros no seu país de origem.
Profissionais liberais que no período entre guerras na Europa, migraram para o
sul do Brasil e especificamente no projeto Porto Novo, apontado na época pelos
Padres Jesuítas como mundo ideal.
Os pioneiros de Itapiranga, muito embora
tenham sido plantados no meio do mato, onde a carência dos meios de comunicação
amputou a história da linhagem e desmentiu a cidadania pré migratória, estes
não se livraram dos laços simbólicos que os amarraram ao passado europeu, como
podemos perceber na arquitetura inicial da colonização.
Fachada lateral da Residência Neff,
localizada em Sede Capela,
construída em 1932.
O modelo arquitetônico da região foi pensado e aplicado pelos jesuítas
que sobre a população tinham jurisdição. Desta forma a construção de igrejas e
casas, invariavelmente passava pelos estilos europeus da época.
Arquitetura barroca e
uso de telhado chalé.
Edifício do SICOOB em Itapiranga, e ao fundo a balsa sobre o rio
Uruguai.
As construções com telhado chalé normalmente são associadas ao
desconhecimento da população, de descendência européia, ao clima regional.
Embora seja um elemento importante a ser considerado (prevenção contra a neve),
a explicação deve ser associada a outros elementos, dentre os quais o estilo
ser o predominante na Europa na virada do século XIX e XX.
Residência Wohlfart, localizada em Linha Presidente Becker, construída
em 1935.
O sincretismo arquitetônico regional também aconteceu na época.
Adequando-se os estabelecimentos ao clima local, foi introduzido a essa
arquitetura as grandes varandas. Como nos países europeus o frio preponderava,
as varandas não tinham função para as construções, ao contrário do que
encontraram nas novas regiões colonizadas, onde as mesmas os abrigavam a sombra
e mantinham os ambientes internos refrescados.
Residência Schoenhals, localizada em Sede Capela, construída em 1928.
Construída na técnica enxaimel, foi introduzida a varanda na sua arquitetura.
O hospital, atualmente desativado, foi construído na comunidade de
Sede Capela que serviu como porta de entrada para os migrantes e se constitui
em Vila, mesmo antes da atual cidade de Itapiranga. O local para servir como
Sede do município foi alvo de muitas controvérsias e intrigas entre os Padres
Jesuítas e as lideranças da Colonizadora (Volksverein). Sede Capela perdeu esta
disputa, apesar de ter recebido o primeiro hospital da região.
Primeiro Hospital em Sede Capela.
“A história de uma cidade pode ser contada pelas informações que seus
patrimônios arquitetônicos conservados fornecem. O patrimônio que identifica a
história de uma cidade vai se perdendo em meio a essa nova arquitetura, o nosso
dia-a-dia está cada vez mais padronizado, fazendo com que o patrimônio
existente nas nossas cidades, que identificam a nossa história, passe cada vez
mais despercebido.”
Seria muito importante elaborar projetos educativos em relação à
preservação do patrimônio histórico e desenvolvimento do sentimento de herança.
“Uma educação que leve para a preservação da memória e dos seus suportes
materiais, deve ser objetivo nos ambientes de aprendizagem, atingindo assim as
gerações mais novas para que aprendam a valorizar o espaço em que estão
inseridas”.
Alguns trabalhos de pesquisa já foram realizados na área de
patrimônio, na qual o propósito foi resgatar e disponibilizar para a Sociedade
Regional, a leitura do potencial arquitetônico Histórico do município de
Itapiranga.
Existem duas citações do IPHAN, que gosto muito de colocar, na qual
uma fala sobre o que é o patrimônio e outra sobre o porquê valorizar:
[...] o patrimônio é um dispositivo narrativo, serve para contar
histórias, fazer a mediação entre diferentes tempos, pessoas e grupos. É nesse
sentido que se pode dizer que eles são pontes, janelas ou portas poéticas que
servem para comunicar e, portanto, para nos humanizar.
Ensinar o respeito ao
passado, mais do que a sua simples valorização, é contribuir para a formação de
uma sociedade mais sensível e apta a construir um futuro menos predatório e
descartável, menos submetido à lógica econômica [...].
“O envolvimento da sociedade junto a órgãos públicos é necessário para
que o trabalho de preservação da memória e patrimônio material seja bem
sucedido”. É importante também realizar um plano que dê continuidade levando o
conhecimento a todos e ensinando o respeito, assim como o sentimento de
herança, em relação à história identificadora de uma comunidade. É muito
importante para a sociedade que se conheça e preserve a história, como que
aconteceu e como que surgiu tudo o que nos cerca, mantendo a memória viva e
assegurando uma coletividade na preservação e divulgação para as novas
gerações.
Um desejo particular é que ainda sejam criadas leis municipais de
proteção ao patrimônio histórico, pois vejo muitas casas, principalmente as
construídas em madeira, que são as principais identificadoras da história de
colonização do município, ser desmanchadas.
---------- = ----------
Agradecemos a sua contribuição Simone, grande contribuição, e a disponibilidade de importante leitura através de sua pesquisa sobre a cidade de Itapiranga, cidade natal de muitos de amigos que residem em Blumenau e, até mesmo, frequentam o C.C. 25 de Julho de Blumenau.
Abraços da Equipe a todos os amigos de Itapiranga.
2 comentários:
Parabens pelo trabalho de resgate da cultura. Estou realizando contruçoes tradicionais e acabei encontrando seu trabalho sobre enxaimel.
sds,
Alexandre U. Raitz Petersen
Parabens pelo trabalho.
Interessante o mapa da colônia. "Badenfurt" seria a referencia ao bairro de Blumenau?
E Pomerode escrita Pommerroda.
Postar um comentário