Deutsche Welle
Ex-ministro das Finanças, candidato social-democrata é considerado um político inteligente, orador brilhante e especialista em questões financeiras, o que pode fazer a balança pesar para seu lado em tempos de crise.
"Ele é capaz!", teria dito em 2011 o ex-chanceler federal alemão Helmut Schmidt, respeitado não só entre os social-democratas alemães, sobre a candidatura de Peer Steinbrück a principal nome do Partido Social-Democrata (SPD) na eleição de 2013.
Veterano, Schmidt não o estima apenas pelas qualidades nos jogos de xadrez, uma paixão compartilhada por ambos. Para o ex-chefe de governo, também não tem a menor importância o fato de Steinbrück, um economista de 66 anos, natural de Hamburgo e ex-ministro das Finanças, ter tido notas ruins em matemática nos tempos de escola.
Decisivos para a recomendação de Schmidt foram os conhecimentos de Steinbrück, visíveis quando ele participou do governo entre 1978 e 1981, depois de ter se formado em Economia. Em sua trajetória, Steinbrück passou por diversos órgãos públicos e ministérios, até se tornar governador do estado da Renânia do Norte-Vestfália e depois ministro das Finanças, a partir de 2005.
Quando tomou posse, Steinbrück havia acabado de perder as eleições estaduais como candidato do SPD na Renânia do Norte-Vestfália, derrotado pela União Democrata Cristã (CDU) de Angela Merkel. Pouco depois, a chefe de governo precisou dos social-democratas para compor um governo. E o SPD recomendou, em meio à coalizão dos dois grandes partidos no país, o nome de Steinbrück para a pasta das Finanças.
No cargo, em cooperação estreita com Merkel, ele combateu arduamente a crise financeira internacional. Quando ela se acirrou, em 2009, temeu-se que haveria uma corrida aos bancos para sacar as poupanças. Juntos, Merkel e Steinbrück foram a público garantir ao cidadão que as poupanças do país permaneceriam intactas.
Deficiências políticas
O estilo político de Steinbrück é apontado como grosseiro, afeito a lições de moral e pouco diplomático. Isso porque ele quase sempre diz diretamente o que pensa. Além disso, quem o conhece de perto fala que ele é consideravelmente impaciente.
Quando, por exemplo, o assunto era diminuir a fuga de divisas do país e a Suíça, lugar predileto para evasão fiscal, se negou a fornecer dados para o governo alemão, Steinbrück ameaçou tomar medidas compulsórias rígidas contra o país. E articulou suas intenções afirmando que "a cavalaria" iria "marchar contra a Suíça" – termos que desencadearam um sério mal-estar diplomático entre os dois países.
Quando ainda era secretário das Finanças e depois governador da Renânia, Steinbrück apoiou claramente o pacote de mudanças da época no país. Naquele momento, o então chefe de governo social-democrata, Gerhard Schröder, queria reformular o mercado de trabalho a fim de diminuir as taxas de desemprego. A ideia era reduzir os benefícios estatais e exigir maior responsabilidade do cidadão em caso de desemprego, algo a ser incentivado através de vínculos empregatícios menos rígidos e com salários baixos.
Steinbrück apoiou a ideia. Naquele momento, surgiu no país uma espécie de milagre empregatício – um fenômeno do qual o governo Merkel se beneficia até hoje. Mas não Steinbrück. O problema é que muitos empregadores abusaram do afrouxamento da legislação, fazendo com que aproximadamente 20% dos trabalhadores na Alemanha hoje recebam salários dos quais mal conseguem sobreviver.
Hoje, na condição de candidato social-democrata, Steinbrück afirma que "alguma coisa flui de maneira muito errada. Há ameaças de uma cisão da sociedade", diz ele. O candidato defende uma economia de mercado social, que recoloque o bem-estar de todos em primeiro plano.
No entanto, seus críticos dizem que essa mudança de pensamento político não é confiável. Da mesma forma que sua descoberta súbita de metas sociais e sua defesa da introdução de um salário mínimo nacional não parecem coerentes com sua trajetória.
Analistas do pleito creditam também a falta de confiança no candidato Steinbrück à sua origem pessoal: ele vem de uma família abastada de comerciantes de Hamburgo e passa uma impressão de riqueza.
Início errado
Mas há ainda outro ponto nevrálgico: depois das eleições parlamentares de 2009, quando Merkel assumiu o poder, numa coalizão entre CDU/CSU e FDP, sem precisar do apoio dos social-democratas para governar, Steinbrück abandonou a linha de frente de seu partido e escreveu um livro sobre seus tempos no governo.
Além disso, ele assumiu postos como professor universitário e passou a ganhar muito bem ministrando palestras. Ou seja, em 2010 Steinbrück parecia nem cogitar que voltaria ao primeiro escalão da política do país.
Neste ano de 2013, contudo, ele foi escolhido na convenção de seu partido com quase 94% dos votos para concorrer como candidato de ponta nas eleições federais. A euforia, porém, não duraria muito tempo. Pouco depois, vazou a informação de que Steinbrück teria recebido mais de meio milhão de euros com palestras em bancos e consultorias financeiras para empresas.
E o pior ainda estaria por vir: Steinbrück afirmou que essa situação era algo estritamente privado, negando-se a dar mais informações a respeito. Mas, por fim, cedeu. Mais tarde, ele viria a criticar os vencimentos do chanceler federal alemão como muito baixos. E declarou também que não toma "vinhos baratos". No mais tardar, vieram daí os danos para sua carreira política.
Na semana passada, o candidato revelou à opinião pública que estava sendo vítima de chantagem: alguém estava ameaçando que, se ele não renunciasse à eleição, viria à tona o caso de uma empregada mantida de forma ilegal. Steinbrück explicou tratar-se de um caso muito antigo, em que uma filipina trabalhou em sua casa e foi paga pela mãe dele.
Nas pesquisas de intenção de voto, a distância de Steinbrück para Merkel parece intransponível. Mas o candidato não se deixa abater. "Em 2005, as eleições pareciam que seriam ainda piores para o SPD e depois acabou acontecendo o contrário", afirmou o candidato.
Melhorias sociais
Nas últimas semanas, Steinbrück fez uso de um tom estritamente objetivo para defender publicamente seu programa de governo, que inclui, entre outros, aumento de impostos para os ricos. Com tais recursos, o candidato quer reduzir principalmente as mazelas sociais do país e ajudar a "quem quer ir para frente".
Steinbrück garante que pretende apoiar sobretudo as mulheres ativas no mercado de trabalho, com equiparação de salários entre os gêneros. Além disso, o candidato defende um sistema mais sólido de creches e jardins-de-infância, bem como uma previdência melhor.
Segundo quem o apoia, Steinbrück tem um trunfo na manga: sua autenticidade, que faz dele um político tão confiável quanto o homem na vida privada. Steinbrück é casado há 38 anos com uma professora de Biologia e Política e é pai de três filhos, já adultos.
Hoje, ele não vê mais Merkel e sua CDU como única possibilidade de parceria no governo. Seu argumento: "Merkel só administra a Alemanha. Ela dá muito poucas formas ao país", diz o candidato. O sonho de Steinbrück agora é conseguir formar uma coalizão de governo com os verdes.
- Data 09.09.2013
- Autoria Wolfgang Dick (sv)
- Edição Roselaine Wandscheer
- Link permanente http://dw.de/p/19dvQ
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