Deutsche Welle
Colina artificial foi um grande canteiro de obras durante o nazismo e um centro de vigilância durante a Guerra Fria. Hoje, está sendo recuperada por artistas e recebe turistas.
A placa que indicava a construção ainda está de pé, como uma desafiadora sobrevivente. Ela fora coberta por tinta e danificada pelo tempo, mas, mesmo entre a crescente vegetação, ainda anuncia incessantemente a conclusão do Teufelsberg Resort para o outono de 2002.
"Como você pode perceber", conta Martin Schaffert, "isso não deu em nada". O jovem historiador diz para o grupo lembrar daquele local, que será assunto "mais tarde". Em uma bela tarde de sábado, ele é o guia em um passeio de duas horas por Teufelsberg. O grupo de 50 pessoas é formado por homens e mulheres de todas as idades, incluindo moradores de Berlim e turistas de Espanha, Itália e América do Norte.
O grupo se reúne em frente a uma bancada improvisada. Enquanto uma parte ainda está pagando pelo passeio, ou assinando um formulário se responsabilizando por qualquer risco, a outra parte já deixou seus olhos se encherem de surpresa e encantamento.
Cercas enferrujadas, um resistente portão de ferro, um trailer todo pichado e um edifício na encosta da colina. Não muito distante, há uma construção de dois andares, com buracos negros no lugar das janelas. Mais acima, no topo da colina, diversas cúpulas de radar com as coberturas brancas rasgadas, tremulando de forma curiosa ao vento.
Schaffert leva o grupo por prédios abandonados cobertos por grafites, com pequenas esculturas com aspecto mal humorado no topo. E faz uma introdução, cheia de piadas, sobre a história de Teufelsberg.
Marcas históricas
Local reúne grafite, ruínas e uma ótima vista da cidade
No início do século 20, o local era plano e protegido, fazendo parte da área de lazer de Grunewald, floresta reservada aos moradores de Berlim, que crescia rapidamente. Os nazistas, que chegaram ao poder em 1933, tinham a ambição de transformar Berlim na capital do mundo. O plano era realocar diversas instituições científicas e levar o hospital Charité do centro da cidade para o norte de Grunewald.
Em 1937, eles começaram a construir no local a universidade técnica militar, mas a construção foi interrompida em 1940. Depois da guerra, em 1945, o prédio se tornou desnecessário e foi destruído. As ruínas remanescentes foram, a partir de 1950, preenchidas com entulho formando a Teufelsberg (literalmente, Montanha do Diabo).
Antes da Segunda Guerra Mundial, explicou Schaffert, os parques e áreas verdes de Berlim eram todos planos. Hoje, quase todos têm uma colina feita de escombros. A maior delas é Teufelsberg, com 115 metros.
Até 1972, os restos de cerca de 15 mil edifícios avariados durante a guerra foram despejados aqui. Eventualmente, vegetação foi plantada na colina, que se tornou um paraíso dos esportes de inverno, com teleféricos, pista de esqui e tobogã – tudo executado pelo governo de Berlim.
Mais tarde, os Aliados descobriram a colina, já que o local era ideal para monitorar os corredores aéreos da Alemanha Ocidental e as redes de rádio e telefonia da então Alemanha Oriental.
O prédio em plena atividade nos anos 1970
Assim, parte de Teufelsberg se tornou uma zona militar restrita. Por trás de cercas, portões e sistemas de segurança, vários edifícios foram construídos, assim como cinco poderosas cúpulas de radar. Estima-se que mais de mil pessoas trabalhassem no local, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Elas faziam parte da rede global de vigilância chamada Echelon. Mais detalhes sobre esse período só estarão disponíveis depois de 2022 – os documentos que não foram destruídos quando o local fechou, em 1992, estão sujeitos a um acordo de confidencialidade.
Schaffert leva o grupo por escadarias e corredores escuros. Com uma lanterna, mostra fotos pregadas na parede que ilustram a história da região, além de um antigo elevador que era usado para descer a colina e enormes trituradores de papel. Ele fala sobre os espelhos parabólicos, espiões e, de vezes em quando, pede cautela ao grupo – já que o chão é cheio de buracos e as escadas inseguras e sem corrimões.
Vandalismo e arte
O que restou do apartamento modelo que se tornaria o Teufelsberg Resort
Durante anos, o local era um popular alvo de vândalos. Eles também destruíram um apartamento modelo construído por um grupo de investidores nos anos 1990, o prelúdio do Teufelsberg Resort, que contaria com um hotel, centro de conferência e modernos apartamentos. Os conservacionistas eram contra o projeto e Berlim, que anteriormente havia vendido o local para um grupo de investidores, declarou a área com protegida e retirou a licença de construção.
Agora, por mais de um ano e meio, a área é administrada pela Comunidade dos Interesses de Teufelsberg. Eles abriram o local para os grafiteiros, que deixam suas contribuições visuais por toda parte. Sob supervisão, festas e filmagens podem ser feitas no local, além dos passeios históricos que acontecem nos fins de semana.
Quem participou da visita guiada se impressionou. Esse é um lugar único, onde as pessoas se sentem isoladas, mesmo estando dentro da cidade, como uma espécie de cápsula do tempo decorada por jovens e artistas criativos. A Comunidade dos Interesses de Teufelsberg quer garantir seu terreno gradualmente e visa não só proteger o local e sua história, mas também seu ambiente natural. Eles são como colonos pacíficos, que vieram de livre e espontânea vontade e tentam trazer Teufelsberg para a Berlim do século 21.
- Data 10.09.2013
- Autoria Silke Bartlick (mas)
- Edição Rafael Plaisant
- Link permanente http://dw.de/p/19eQZ
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